quinta-feira, 27 de março de 2014

DIÁRIO DE UM PM COMBATENTE PARA AQUELES POLICIAIS QUE FORAM AO COMBATE NAS RUAS A VIDA TEM UM SABOR QUE OS ABRIGADOS JAMAIS CONHECERÃO.

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Muitas vezes no calor das ocorrências agimos de forma imprudente, deixando de lado princípios básicos de segurança. Achamos que se esperarmos perderemos a oportunidade e o flagrante e agimos. Simples assim. Mas hoje em dia temos que agir com cautela e prudência pois além do marginal e sua lógica de nos ferrar temos uma grande parcela que espera apenas nossas falhas.
Estávamos em patrulhamento, em uma viatura simples, dois policiais, quando em uma via percebi na janela de um coletivo que passava um elemento em atitude suspeita, olhando para os lados de forma bem nervosa, cara de apavorado. Como o coletivo não estava vazio e não sabíamos se o suspeito tinha colegas no interior do ônibus começamos a acompanhar o ônibus bem próximo, onde em cada parada verificávamos se o elemento descia, e ao mesmo tempo fazíamos comunicação via rádio.
Prosseguimos por mais uns 15 minutos em deslocamento atrás do ônibus sem que ninguém percebesse enquanto algumas viaturas começavam a preparar um cerco e outras começavam a chegar onde estávamos e percebendo o que fazíamos compunham um comboio puxado pelo coletivo. Uma cena bem diferente de se ver.
Quando o ônibus foi parado pelos policiais que fizeram uma blitz, rapidamente os componentes das viaturas que estavam atrás do coletivo desceram e iniciaram a abordagem. Com o jovem mais de 50 pequenos tabletes de maconha prensada.  O jovem não percebeu em momento algum a aproximação das viaturas e só se deu conta quando estávamos todos preparados para agir com segurança.
Não que não conseguíssemos abordar o coletivo com uma equipe composta por dois policiais, conseguiríamos, mas se ao invés de maconha o elemento estivesse portando uma arma? Uma arma contra duas é uma situação, uma arma contra 15 outra completamente diferente.
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Durante um jantar percebemos um trio de pessoas passando pelo restaurante. Antes andando próximos uns dos outros, após nos enxergarem, cada um tratou de se afastar do outro. Como estávamos no final da refeição, quando saíram da nossa vista resolvemos tentar alcançá-los. Entramos rapidamente em nossa viatura e pegamos a provável rota dos suspeitos.
Estavam a aproximadamente 500 metros do ponto onde os tínhamos visto anteriormente, e por mais que fosse noite e a viatura estivesse apagada conseguiram nos visualizar. Eram um casal mais velho e um jovem que ao avistar a viatura jogou algo por cima de uma densa moita. Rapidamente chegamos ao local onde estavam e os abordamos.
Durante a revista pessoal nada foi encontrado, e o elemento que jogou o pequeno pacote não abria, afirmando categoricamente que não havia jogado nada. Começamos então a vasculhar o local, que para o nosso azar era um gramado mal cuidado de aproximadamente 3 metros quadrados cheio de lixo. Com nossas lanternas ficamos muito tempo procurando e também procurando na própria moita (já que o pacote poderia ter ficado na moita e não passado por cima dela).
Muito tempo depois começávamos a cogitar liberá-los, pois não conseguíamos achar o pacote. Liberamos então o casal primeiramente já que se achássemos o pacote o dono seria o jovem que jogou. E foi pouco depois da liberação do casal que nosso ZERO 2 (motorista), que fazia nossa segurança vigiando o jovem a uma certa distância telou* o jovem olhando para um canto um pouco distante do gramado. Foi um olhar rápido, mas suficiente para que nosso observador companheiro soubesse onde procurar o pacote.
Dentro do pacote encontrado mais de 30 pedras de CRACK e como resultado da ação uma pessoa presa por tráfico de entorpecente. Uma ação que começou com uma atitude suspeita de pessoas andando e terminou com essa sacada da observação atenta aos suspeitos que estavam sendo abordados.
*telou = observou

As vezes rotolight desligado ajuda

Publicado: setembro 5, 2013 em NAS RUAS
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Durante um patrulhamento rotineiro na madrugada copiamos via rádio sobre um veículo suspeito fugindo de viatura policial, rapidamente deslocamos para o endereço passado, e como estávamos próximos visualizamos o veículo suspeito e a viatura que já estava ficando distante do suspeito.
Nós estávamos com uma GM – Blazer 4.3 (um motor vestido de viatura), muito potente para a época e começamos a fazer o acompanhamento, o veículo em fuga, um VW Golf, não nos deixava chegar perto. No acompanhamento mantínhamos uma distância onde ele não fugia completamente, mas não conseguíamos chegar perto para abordá-lo. Utilizamos ROTOLIGHT  e SIRENE funcionando o tempo todo para que os veículos que nada tinham a ver com a ocorrência entrassem em nosso caminho.
Percebemos que a velocidade estava aumentando e com ela os riscos, então mudamos a tática, desligamos ROTOLIGHT e SIRENE. Claro que tivemos que diminuir um pouco a velocidade porque agora os veículos não abriam caminho para nossa viatura, mas ainda tínhamos o contato visual com o Golf. Alguns segundos depois (segundos que pareciam horas) percebemos que o veículo em fuga começou a reduzir sua velocidade. Os dois carros ainda estavam muito rápido, mas começamos a nos aproximar deles. Quando olhavam ao retrovisor só viam faróis, nada mais de policia no seu encalço e isso fez com que eles diminuíssem a velocidade.
O que fazia o motorista acelerar cada vez mais era olhar ao retrovisor e ver o luzes vermelhas no seu encalço. Quando parou de vê-las começou a sentir segurança, começou a sentir que poderia fugir da gente, que tudo daria certo, foi quando olhou para a esquerda e viu a lateral de uma blazer e dois policiais lhe enquadrando, mandando encostar seu potente Golf. Não tinha mais reação, agora seu potente carro estava emparelhado por uma não menos potente viatura, com policiais felizes por sua tática ter dado certo.

Nas ruas confie nos seus instintos

Publicado: agosto 12, 2013 em CONTEXTUALIZANDO
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Guarnição de companheiros de rua abordou dois elementos em atitude suspeita em uma área onde o tráfico de entorpecentes é muito comum. Os policiais procederam na abordagem, e após a revista pessoal nada encontraram com a dupla. Verificaram nas proximidades dos abordados e mais uma vez nada encontrado.
Os combatentes sabiam que havia algo de errado mas como nada foi encontrado, após algumas indagações aos abordados acabaram os liberando. Assim que liberados os elementos falaram que iriam embora e seguiram seu destino.
A guarnição não conformada com a situação deixou um dos policiais próximo ao local da abordagem e saiu de cena, onde para dar mais credibilidade ao teatro passou pelos elementos quando estes seguiam seu caminho.
Não deu outra, ao notarem o distanciamento da viatura retornaram ao local onde estavam e há alguns metros de onde estavam pegaram a droga que vendiam no local. O que não contavam era com o policial militar que estava aguardando-os. Assim que pegaram a droga o policial lhes deu voz de prisão e chamou de volta sua guarnição.
O instinto policial é desencadeado por um estímulo-chave que é desenvolvido por nossas repetidas ações policiais. De tanto abordarmos e percebermos o modus operandi do infrator acabamos criando um padrão para identificar algo errado. Naturalmente ou instintivamente notamos algo de errado, algo que nos incomoda, é como se tivéssemos um elefante em nossa sala de estar.
Muitas vezes nas ruas nossos instintos nos indicam uma situação, que eventualmente não acolhemos. Nosso serviço é baseado em treinamentos, experiência e instinto policial. Por mais absurda que uma cena possa parecer, siga seu instinto, que ele lhe levara ao sucesso no serviço de rua.
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Tão importante como a segurança da abordagem é a revista pessoal. Passado o tenso momento da abordagem inicial onde a chance de reação é maior passasse a um segundo estágio na abordagem que é a revista pessoal.
Muitas técnicas são transmitidas em cursos de especialização quanto a forma de imobilização do elemento a ser revistado, técnicas que visam reduzir a chance de reação do abordado, técnicas essas que não serão transmitidas agora, mas alguns procedimentos, independente da técnica utilizada não podem deixar de ser utilizados.
Um dos mais importantes para nós policiais de rua, que aprendi desde cedo e já salvou minha pele mais de uma vez foi de sempre que receber um preso ou detido para colocar em minha viatura ou simplesmente conduzi-lo a outro lugar proceder em revista pessoal, mesmo que outro policial ou segurança já o tenha feito. Infelizmente nem todos prestam atenção no que estão fazendo ou até mesmo tem aquelas pessoas que não estão em um dia bom, ou até mesmo incompetência.
Não tenha pudores ao proceder na revista pessoal, se você tem nojinho ou insegurança sexual de não poder proceder na revista não faça, deixe que um policial de verdade faça pois pode colocar a vida de ambos em risco. Abaixo uma situação em que passei com um policial que queria trabalhar conosco e depois deste incidente percebeu que o local dele não era em grupos táticos. Todos erram, mas alguns erros poder custar vidas, então se tornam menos aceitáveis do que outros. Neste caso após o erro o próprio policial resolveu por receio ou vergonha não correr mais riscos de errar assim.
Em uma abordagem a dois elementos com características bem parecidas com a irradiada pela central como suspeitos de roubo procedemos como de praxe abordando, fazendo a revista pessoal, e o policial (já antigo, porém novo em grupo tático) fez a revista pessoal, dando o pronto após proceder informando estar tudo limpo. Algumas movimentações do revistado estavam me incomodando e sem dar muito na cara procedi novamente na revista dos suspeitos afinal de contas era muito difícil a Central passar características tão corretas e o elemento estava esquisito. Quanto passei a mão na frente da cintura encontrei o cabo de um revólver, onde imediatamente puxei a arma e joguei o elemento ao chão. Todos ficaram olhando sem entender quando mostrei a arma que estava na cintura do marginal. Ficamos alguns minutos sem falar muito um com o outro, nosso colega se desculpou e quando chegamos ao batalhão ele falou que não iria mais querer fazer parte do grupamento.
Somos colegas até hoje, mas a situação criou um embaraço que dificilmente será desfeito. Ao contrário do que muitos pregam, a revista pessoal não tem que ser feita por policiais novos, onde alguns antigões já colocam os novinhos para revistar como se fosse uma grande vantagem por ser antigo não revistar ninguém. A revista pessoal tem que ser feita por um policial experiente, safo para que tudo dê certo e nada passe batido, afinal de contas em revistas pessoais se o procedimento for feito mal feito o risco é para todos.
Fonte: Diário de um PM Combatente.

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