quarta-feira, 24 de setembro de 2014

NASCENTE DO VELHO CHICO SECOU - A NATUREZA QUANDO AGREDIDA NÃO RECLAMA, SIMPLESMENTE SE VINGA.

23/09/2014 13h37 - Atualizado em 23/09/2014 20h30

Diretor de parque diz que principal nascente do Rio São Francisco secou

'Nunca vi essa situação em toda a história', afirmou Luiz Arthur Castanheira.
Bacia abrange 5 estados; biodiversidade está ameaçada, diz especialista.

Caroline Aleixo e Carolina Portilho *Do G1 Centro-Oeste de Minas
O diretor do Parque Nacional da Serra da Canastra, Luiz Arthur Castanheira, disse em entrevista ao G1 na tarde desta terça-feira (23) que a nascente do Rio São Francisco, situada em São Roque de Minas, secou. Segundo Castanheira, essa nascente é a principal de toda a extensão do rio, que tem 2.700 km. O São Francisco é o maior rio totalmente brasileiro, e sua bacia hidrográfica abrange 504 municípios de sete unidades da federação – Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Goiás e Distrito Federal. Ele nasce na Serra da Canastra, em Minas, e desemboca no Oceano Atlântico na divisa entre Alagoas e Sergipe.
Nascente Rio São Francisco (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)Principal nascente do rio está seca (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)
Segundo Castanheira, o motivo é a estiagem. "Essa nascente é a original, a primeira do rio e é daqui que corre para toda a extensão. Ela é um símbolo do rio. Imagina isso secar? A situação chegou a esse ponto não foi da noite para o dia. Foi de forma gradativa, mas desse nível nunca vi em toda a história”, afirmou.
Rio São Francisco (Foto: Bacia abrange mais de 500 municípios de sete estados)
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, disse ao G1 que, embora a notícia ainda não tenha chegado oficialmente ao conhecimento do comitê, não causa surpresas em virtude de essa ser uma das estiagens mais graves desde que foi iniciado o acompanhamento histórico do rio. Para ele, a situação é preocupante, já reflete no nível das barragens e ameaça a biodiversidade do São Francisco.
“Isso não é comum, é preocupante. Não há dúvida de que algo em grande escala está mudando em nosso ecossistema. As principais barragens do Alto São Francisco, que são a de Três Marias e Sobradinho, estão sendo ameaçadas e se aproximam do limite de volume útil de água. Ou seja, a água dos principais afluentes está chegando ao nível zero, e a biodiversidade do rio está comprometida, além de a qualidade do rio estar se deteriorando", explicou Miranda.
O volume útil da Represa de Três Marias, que é a primeira barragem construída ao longo do rio, chegou a registrar 6% nesta semana. A de Sobradinho, 31%. “São níveis baixíssimos e que causam impactos catastróficos, como já vem ocorrendo no Baixo São Francisco. Com o nível baixo, o oceano está invadindo o rio e salinizando a água doce”, concluiu Miranda.
Ele ressaltou que, apesar de a nascente em São Roque de Minas, no Centro-Oeste do estado, não ser determinante para o volume de água da bacia, ela serve como um "termômetro", uma vez que o nível dos reservatórios da região é fundamental para o São Francisco.
Soluções
O presidente do Comitê da Bacia do rio diz que não se pode contar com o período mais úmido que deve vir após outubro. Ele defende que, independente das mudanças climáticas, a questão é emergencial e, para ser amenizada, deve-se mexer no modelo da bacia enérgica do São Francisco, realizando um grande pacto das águas.
Anivaldo Miranda pontuou ainda que o poder público deve tratar a bacia hidrográfica com prioridade por ser uma das principais do Brasil e estar entre as mais vulneráveis. “O rio atravessa quase 1 milhão de quilômetros quadrados de região semiárida, atende a região nordeste e grande parte de Minas, onde há grande vulnerabilidade hídrica”, afirmou.
Diante dessa situação crítica, que na visão do especialista começou a se agravar em abril do ano passado, o Comitê da Bacia do São Francisco vai realizar audiências públicas com pessoas diretamente ligadas à bacia. O diálogo terá duração de 18 meses e será feito com o governo federal, municípios, usineiros, mineradores, pescadores, população nativa das comunidades ribeirinhas e comunidade civil. O objetivo das audiências será discutir sobre o futuro da bacia e apresentar a urgência de investir na recuperação hídrica do São Francisco.
Nascente Rio São Francisco (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)Principal nascente que secou fica na cidade mineira de São Roque de Minas (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)
Incêndios
Para piorar a situação, a seca tem causado vários focos de incêndio no Parque Nacional da Serra da Canastra nos últimos meses – levando à utilização da pouca água do São Francisco para apagá-los. Em julho, o fogo devastou cerca de 40 mil hectares de vegetação nativa. “Combatemos as chamas usando água do parque, mas isso não foi o fator mais agravante. O que pesa mais é a seca, a falta de chuva. Corre pouquíssima água, e essa realidade é triste”, disse o diretor do parque. O incêndio mais recente durou quatro dias e, pouco depois, outros focos foram registrados.
A estiagem deste ano ocorre em todo o país há vários meses, exceto na região Sul. Em Minas, diversas regiões enfrentam o problema da seca, entre elas cidades do Triângulo Mineiro, Zona da Mata e Centro-Oeste do estado, que já chegaram a decretar situação de emergência pelo desabastecimento e a multar moradores flagrados desperdiçando água.
E as previsões são pouco animadoras. A primavera começou às 23h29 desta segunda-feira (22) e, de acordo com o meteorologista Marcelo Pinheiro, da empresa Climatempo, a tendência é que na estação a temperatura fique de 2ºC a 3ºC acima da média nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. No Sul, a temperatura pode ficar até 3ºC acima da média.
Além disso, a primavera deve ser caracterizada por temperaturas um pouco acima do normal e chuvas dentro da média na maior parte do país – porém ainda insuficientes para resolver o problema de falta d’água nos reservatórios. Especificamente para a região afetada pela seca no Centro-Oeste de Minas Gerais, a previsão é de que o período de chuvas só comece em outubro.

*Colaboraram Palmira Ribeiro e Anna Lúcia Silva
Fogo deve ser erradicado nesta quarta-feira  (Foto: Edvaldo Fausto/Divulgação)Incêndio no parque no dia 8 desse mês controlado com apoio de aeronaves (Foto: Edvaldo Fausto/Divulgação)Fonte: G1

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

PRESTEM ASSUNTO: A NATUREZA QUANDO AGREDIDA NÃO RECLAMA, SIMPLESMENTE SE VINGA.


Sistema Cantareira atinge 8,1%, menor índice já registrado em SP

Reservatório está mais baixo desde a captação do volume morto.
Sabesp alega ter adotado medidas para amenizar crise hídrica no estado.

Do G1 São Paulo
Seca na represa Jaguari-Jacareí, na cidade de Bragança Paulista (SP), onde o índice de água armazenada no Sistema Cantareira é de apenas 12,5% da capacidade total. A Sabesp anunciou que deve retirar mais 106 bilhões de litros do volume morto do sistema (Foto: Luis Moura/Estadão Conteúdo)Seca na represa Jaguari-Jacareí, na cidade de Bragança Paulista (SP). A Sabesp anunciou que deve retirar mais 106 bilhões de litros do volume morto do sistema (Foto / Arquivo: Luis Moura/Estadão Conteúdo)
O Sistema Cantareira atingiu o índice de 8,1% neste domingo (21), o mais baixo da história desde o início da capactação do volume morto, segundo medição da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulox (Sabesp).
E mesmo com a captação de água da reserva técnica das represas Jaguari-Jacareí e Atibainha a partir de maio deste ano, o Sistema Cantareira vem atingindo índices cada vez mais baixos. No sábado (20), o índice da represa estava em 8,2%; e na sexta-feira (19), era de 8,4%.

A Sabesp considera o nível do Sistema Cantareira pelo volume útil mais a reserva técnica (volume morto) das represas Jaguari/Jacareí e Atibainha. O Cantareira abastece, atualmente, cerca de 6,5 milhões de pessoas só na Grande São Paulo.
Volume morto
No dia 16 de maio, com o início da captação do volume morto, o nível do sistema Cantareira também estava em 8,2% e subiu para 26,7%, com a adição de 18,5% de água da reserva técnica.
A Sabesp admite que a situação é crítica por causa da falta de chuva, mas diz que tem adotado medidas para o problema, como interligação dos sistemas, redução de perdas na distribuição, uso do volume morto e bonificação aos moradores que economizarem água.
De acordo com a companhia, a queda dos reservatórios que atendem a Região Metropolitana é resultado da falta de chuva no último verão, o mais seco dos últimos 84 anos, época em que começaram as medições, e as temperaturas que permaneceram altas mesmo durante o inverno.
Saída do grupo técnico
Na sexta-feira, a Agência Nacional de Águas (ANA) propôs o fim do grupo técnico formado por órgãos reguladores para auxiliar o governo paulista em sua gestão do Sistema Cantareira. Em ofício, a ANA também comunicou sua saída do grupo por discordar da postura da Secretaria Estadual de Recursos Hídricos sobre os limites adotados para captação de água e abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo.
O Grupo Técnico de Assessoramento para a Gestão do Sistema Cantareira (GTAG-Cantareira) foi criado em fevereiro para discutir alternativas à crise hídrica que causou queda no nível dos reservatórios.
Decisão ANA
O diretor-presidente da ANA, Vicente Andreu, afirmou em ofício enviado à superintendência do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE) que o secretário de Recursos Hídricos, Mauro Arce, tem negado acordo à proposta de novos limites de retirada de água do Cantareira para a Região Metropolitana de São Paulo.
Na quinta-feira (18), a agência já havia  divulgado alerta sobre a demora do governo em convocar nova reunião do GTAG para concluir a análise da proposta apresentada em reunião em 21 de agosto, e acordada pessoalmente entre Arce e Andreu, de reduzir as vazões de captação.
Desde o fim do mês passado, o G1 tem solicitado informações sobre as discussões da reunião do grupo, mas os detalhes não foram informados pela Secretaria de Recursos Hídricos e o Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE)
O departamento informou, em nota, que não comentará a saída da ANA e a proposta de encerramento do grupo porque cabe à Secretaria de Recursos Hídricos falar sobre questões relacionadas ao GTAG. A pasta foi procurada, mas não se manifestou até as 19h15 desta sexta-feira.
Redução na captação
A ANA propôs, em reunião do GTAG em 21 de agosto, redução da retirada de para 18,1 metros cúbicos por segundo de água do Cantareira a partir de 1º de outubro e para 17,1 metros cúbicos por segundo a partir de 1º de novembro.
Segundo a agência, o governo afirmou que a diminuição nas captações estaria sendo compensada por transferências de vazões em outros sistemas operados pela Sabesp. A indefinição, de acordo com a ANA, dificulta o ajuste necessário entre as disponibilidades e demandas por água nas regiões atendidas pelo Cantareira.
Discussões
O GTAG foi criado em 12 de fevereiro com a objetivo de assessorar a administração do armazenamento de água do Sistema Cantareira no período de crise hídrica. Além de ANA e DAEE, também fazem parte do GTAG representantes da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, do Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Comitê PCJ) e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê (CBH-AT).
As reuniões do GTAG, presenciais ou à distância, foram realizadas a partir de convite encaminhado pelo DAEE, designado secretaria do Grupo, e na sequência foram expedidos comunicados disponibilizados nos sites das instituições integrantes do grupo.
A Sabesp defende que a queda dos reservatórios que atendem a Região Metropolitana de São Paulo é resultado da falta de chuva no último verão, o mais seco dos últimos 84 anos, época em que começaram as medições, e as temperaturas que permaneceram altas mesmo durante o inverno.
Entre as medidas adotadas para reduzir o consumo e a sobrecarga no Cantareira está o programa de bônus de 30% na conta para os moradores que economizarem pelo menos 20% de água na Região Metropolitana de São Paulo, Campinas e Bragança Paulista.
Sabesp
Desde maio, a Sabesp conta com 182,5 bilhões de litros de água da reserva técnica, o volume morto, das represas Jaguari/Jacareí e Atibainha, que compõem o Sistema Cantareira. Mesmo assim, os reservatórios seguem em queda.
A companhia também já pediu mais 106 bilhões de litros de água, que serão usados “apenas se for necessário”, segundo nota. Os órgãos reguladores deram aval para a obra de implantação das bombas, mas a captação ainda não foi autorizada.
A Sabesp disse, em nota, que tem tomado medidas importantes para garantir o abastecimento na região metropolitana e aposta na retomada da chuva a partir de setembro. “Se tudo ocorrer dentro da normalidade, os níveis dos reservatórios deverão ser recompostos como ocorre anualmente durante esse período”, consta no comunicado.
Represa Jaguari-Jacareí, parte do Sistema Cantareira, na cidade de Vargem, no interior de São Paulo fotografada nesta terça (29) (Foto: Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo)Represa Jaguari-Jacareí, do Sistema Cantareira, em Vargem, em abril (Foto: Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo)Fonte G1

domingo, 21 de setembro de 2014

Mães de desaparecidos esperam por DNA de mais de 200 ossadas no Rio

21/09/2014 08h52 - Atualizado em 21/09/2014 08h52

Polícia diz que fará novos exames a partir de segunda-feira (22).

CPI na Câmara dos Deputados indica cemitérios clandestinos no Rio.

Henrique CoelhoDo G1 Rio
Entre 2000 e 2009, 213 ossadas foram encontradas no Rio de Janeiro. Os dados da CPI de Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes da Câmara dos Deputados, concluída em junho de 2014, deixam mães e parentes de crianças desaparecidas à espera de novas informações. Em meio ao clamor por notícias, a Polícia Civil inaugura nesta segunda-feira (22) a Delegacia de Paradeiro de Desaparecidos, ampliando a seção de Desaparecidos, que já funcionava na Delegacia de Homicídios da capital. Entre as primeiras ações, está prevista a realização de exames para comparar ossos achados com material genético de familiares.
Quatro mães conversaram com o G1 sobre suas histórias. Com casos de filhas desaparecidas entre 2001 e 2010, elas receberam a confirmação da titular da nova delegacia, Elen Souto, de que serão chamadas ainda nesta semana para testes de DNA. O objetivo é descobrir se a busca pelo paradeiro das filhas terá um final. Entre os locais onde ossadas foram encontradas, segundo a CPI, estão um terreno da Aeronáutica na Avenida Brasil e um cemitério clandestino em Manguinhos, na Zona Norte da Cidade.
Larissa desapareceu em janeiro de 2008 em São Cristóvão (Foto: Divulgação)Larissa desapareceu em janeiro de 2008
(Foto: Arquivo pessoal)
Raquel Gonçalves Cordeiro da Silva, de 43 anos, mãe de Larissa Gonçalves Santos, sequestrada no dia 31 de janeiro de 2008 aos 11 anos de idade, espera que a nova delegacia consiga trazer uma solução para o caso. A filha foi sequestada dentro de casa na Barreira do Vasco, em São Cristóvão. O sequestrador de Larissa, o oficial da Marinha Fernando Marinho de Melo, de 57 anos, foi preso em janeiro de 2014, condenado a sete anos de prisão, que está cumprindo em Bangu 8. Ele é apontado como o responsável pelo desaparecimento de várias crianças nos últimos anos para exploração sexual.
Mesmo com o sequestrador preso, Raquel se angustia em pensar o que pode ter acontecido com a filha. “Uma coisa é você saber que morreu, não tem volta. Outra é não ter certeza de nada. Você cria seus filhos, faz planos para eles, e de repente para para pensar que ela virou um monte de ossos enterrados na lama. E como o sequestrador não diz onde o corpo está?”, questiona.
Raquel espera que os exames de DNA comprovem que uma das ossadas analisadas pela nova delegacia seja de Larissa. “Se for isso mesmo, ele também será julgado por homicídio”, explica. “Tenho 43 anos, mas me sinto como se tivesse com 100 anos de idade quando penso nisso. Tenho que tomar remédios há 3 anos, meu filho não faz nada sozinho, minha família ficou destruída. É assim que eu posso resumir minha vida desde então”, conta, abatida.
Thaís Barros desapareceu na Vila Kennedy em 2002 (Foto: Divulgação)Thaís desapareceu na Vila Kennedy em 2002
(Foto: Arquivo pessoal)
Há a suspeita de que Fernando Marinho de Melo também seja o responsável pelo desaparecimento de Thaís de Lima Barros, que tinha 9 anos quando foi raptada da porta da casa de um parente, onde estava com um primo, em 22 de dezembro de 2002, na Vila Kennedy, em Campo Grande, na Zona Oeste. Segundo testemunhas, um homem foi visto atrás de uma árvore próxima ao local, pouco antes de Thaís desaparecer. Quando a menina e o primo entraram em casa, o homem fez o mesmo e a raptou.
“Quando eu cheguei, ela já tinha sido levada. Muita gente que eu nunca tinha visto estava andando pelo bairro com uma foto da minha filha, e aí eu comecei a ficar preocupada. Eu e meu marido começamos a procurar, fizemos um registro na 34ª DP, mas pouco foi feito depois disso”, relata a mãe, que desde 2005 espera para fazer um exame de DNA. “Preciso saber o que houve com a minha filha, de qualquer forma.”
Traumas
A busca por notícias de um filho desaparecido pode causar sérios danos psicológicos a quem passa por isso. Ingrid Vanessa Cunha Pitanga, de 10 anos, estava levando o primo para a escola localizada na Rua Nilópolis, em Realengo, na Zona Norte do Rio, na manhã do dia 6 de setembro de 2001. A mãe, Elisangela Cunha Germano, contou que estava fazendo serviços de manicure para uma cliente idosa e que encontraria a filha perto do colégio. Quando não a viu, a primeira coisa que pensou foi que ela teria se acidentado e sido encaminhada para o Hospital Albert Schweitzer, no mesmo bairro.
Ingrid foi raptada em setembro de 2001 em Realengo (Foto: Divulgação)Ingrid desapareceu em 6 de setembro de 2001
(Foto: Divulgação)
“Ela não era de sumir, não era de fazer isso. Fui até o hospital, mas lá ela não estava. A ficha só caiu mesmo à noite, e a família inteira chorou. O pior é que ninguém viu nada”, conta a mãe, que não teve outros filhos depois dessa situação.
Após um surto, em 2008, seu psiquiatra pediu sua aposentadoria em 2009. Ela se mantém sã atualmente à base de calmantes e antidepressivos. O pior medo é que o fato se repita com outras crianças. “São 13 anos que espero por um novo exame, por notícias. E soube no último ano de pelo menos três casos. Não quero nunca que outras pessoas passem pelo que eu passei.”
Ainda na Zona Norte, em 2010, foi a vez de Lenivanda Souza ser surpreendida pelo desaparecimento da filha Gisela Andrade de Jesus, que tinha 8 anos. Estudante da Escola Municipal Bahia, na Avenida Brasil, Gisele estava saindo do colégio no início da tarde do dia 25 de fevereiro. Parou em um posto de gasolina para beber água, como sempre fazia após as aulas. Pouco depois das 13h, no entanto, desapareceu.
Gisela Andrade saiu do colégio em 2010 e desapareceu (Foto: Divulgação)Gisela saiu do colégio em 2010 e desapareceu.
(Foto: Divulgação)
Cemitérios clandestinos
Lenivanda voltava do hospital, onde esperava grávida por um exame. Quando chegou em casa e soube do que acontecera, passou mal. Mesmo procurando exaustivamente nas favelas do da Maré, onde morava, nunca se viu rastros de Gisele. Uma denúncia em novembro de 2013, no entanto, chamou a atenção dela e de outras mães de desaparecidos.

“Soubemos que havia uma denúncia de cemitério clandestino no Fundão, com várias ossadas. Já sabíamos que haviam recolhido ossadas em um terreno na Avenida Brasil, mas essa denúncia nova fez com que pedíssemos mais uma vez por DNA. Vamos ver se agora sai. Eu creio que minha filha possa estar viva, mas não custa tentar fazer o exame”, diz, entre a angústia e a esperança.
A Polícia Civil afirma que foi até o Fundão para verificar a denúncia de um cemitério clandestino, mas que nada encontrou.

Apesar da síndrome do pânico adquirida após o sequestro e os três anos tomando remédios controlados, Lenivanda segue a vida. O que lhe dá forças é o filho Gabriel, de 4 anos, gerado em meio ao drama do desaparecimento. “Ele que leva luz para a minha vida. Deus tirou ela da minha vida, mas me deu ele”, conta ela.
Pedidos da comissão
O texto da CPI, presidida pela deputada Erica Kokay (PT) e com a deputada Liliam Sá (PR) como relatora, pede melhorias para o assunto no Rio de Janeiro. Segundo o relatório final, o Rio possui um déficit de 48 conselhos tutelares. De acordo com o Conselho Nacional de Direitos da Criança e Adolescente (Conanda), a recomendação é de um Conselho Tutelar para cada 100 mil habitantes. A decisão de fazer exames de DNA em ossadas encontradas entre 2000 e 2009 foi feita após sugestão da CPI.
O relatório afirma ainda que é necessário criar Varas da Infância e Juventude especializadas em crimes contra crianças e adolescentes, “visto que as existentes não estão dando conta de todos os processos, o que causa lentidão na tramitação e em consequência a impunidade”.
Fonte: G1

sábado, 20 de setembro de 2014

"""A NATUREZA QUANDO AGREDIDA NÃO RECLAMA, SIMPLESMENTE SE VINGA.""" Sistema Cantareira cai para 8,2% e atinge menor índice da história

20/09/2014 11h28 - Atualizado em 20/09/2014 15h38

Cantareira tem reservatório mais baixo desde a captação do volume morto.

Sabesp diz que adotou medidas para amenizar a crise hídrica no estado.

Do G1 São Paulo
Apesar da captação de água da reserva técnica das represas Jaguari-Jacareí e Atibainha a partir de maio deste ano, o Sistema Cantareira atingiu o índice de 8,2% neste sábado (20), o mais baixo da história desde o início da capactação do volume morto, segundo medição da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Nesta sexta-feira (19), o índice da represa estava em 8,4%.
A Sabesp considera o nível do Sistema Cantareira pelo volume útil mais a reserva técnica (volume morto) das represas Jaguari/Jacareí e Atibainha. O Cantareira abastece, atualmente, cerca de 6,5 milhões de pessoas só na Grande São Paulo.
No dia 16 de maio, com o início da captação do volume morto, o nível do sistema Cantareira também estava em 8,2% e subiu para 26,7%, com a adição de 18,5% de água da reserva técnica.
A Sabesp admite que a situação é crítica por causa da falta de chuva, mas diz que tem adotado medidas para o problema, como interligação dos sistemas, redução de perdas na distribuição, uso do volume morto e bonificação aos moradores que economizarem água.
De acordo com a companhia, a queda dos reservatórios que atendem a Região Metropolitana é resultado da falta de chuva no último verão, o mais seco dos últimos 84 anos, época em que começaram as medições, e as temperaturas que permaneceram altas mesmo durante o inverno.
Nesta sexta (19), a Agência Nacional de Águas (ANA) propôs o fim do grupo técnico formado por órgãos reguladores para auxiliar o governo paulista em sua gestão do Sistema Cantareira. Em ofício, a ANA também comunicou sua saída do grupo por discordar da postura da Secretaria Estadual de Recursos Hídricos sobre os limites adotados para captação de água e abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo.
O Grupo Técnico de Assessoramento para a Gestão do Sistema Cantareira (GTAG-Cantareira) foi criado em fevereiro para discutir alternativas à crise hídrica que causou queda no nível dos reservatórios.
Decisão ANA
O diretor-presidente da ANA, Vicente Andreu, afirmou em ofício enviado à superintendência do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE) que o secretário de Recursos Hídricos, Mauro Arce, tem negado acordo à proposta de novos limites de retirada de água do Cantareira para a Região Metropolitana de São Paulo.
Na quinta-feira (18), a agência já havia  divulgado alerta sobre a demora do governo em convocar nova reunião do GTAG para concluir a análise da proposta apresentada em reunião em 21 de agosto, e acordada pessoalmente entre Arce e Andreu, de reduzir as vazões de captação.
Desde o fim do mês passado, o G1 tem solicitado informações sobre as discussões da reunião do grupo, mas os detalhes não foram informados pela Secretaria de Recursos Hídricos e o Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE)
O departamento informou, em nota, que não comentará a saída da ANA e a proposta de encerramento do grupo porque cabe à Secretaria de Recursos Hídricos falar sobre questões relacionadas ao GTAG. A pasta foi procurada, mas não se manifestou até as 19h15 desta sexta-feira.
Redução na captação
A ANA propôs, em reunião do GTAG em 21 de agosto, redução da retirada de para 18,1 metros cúbicos por segundo de água do Cantareira a partir de 1º de outubro e para 17,1 metros cúbicos por segundo a partir de 1º de novembro.
Segundo a agência, o governo afirmou que a diminuição nas captações estaria sendo compensada por transferências de vazões em outros sistemas operados pela Sabesp. A indefinição, de acordo com a ANA, dificulta o ajuste necessário entre as disponibilidades e demandas por água nas regiões atendidas pelo Cantareira.
Discussões
O GTAG foi criado em 12 de fevereiro com a objetivo de assessorar a administração do armazenamento de água do Sistema Cantareira no período de crise hídrica. Além de ANA e DAEE, também fazem parte do GTAG representantes da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, do Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Comitê PCJ) e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê (CBH-AT).
As reuniões do GTAG, presenciais ou à distância, foram realizadas a partir de convite encaminhado pelo DAEE, designado secretaria do Grupo, e na sequência foram expedidos comunicados disponibilizados nos sites das instituições integrantes do grupo.
A Sabesp defende que a queda dos reservatórios que atendem a Região Metropolitana de São Paulo é resultado da falta de chuva no último verão, o mais seco dos últimos 84 anos, época em que começaram as medições, e as temperaturas que permaneceram altas mesmo durante o inverno.
Entre as medidas adotadas para reduzir o consumo e a sobrecarga no Cantareira está o programa de bônus de 30% na conta para os moradores que economizarem pelo menos 20% de água na Região Metropolitana de São Paulo, Campinas e Bragança Paulista.
Desde maio, a Sabesp conta com 182,5 bilhões de litros de água da reserva técnica, o volume morto, das represas Jaguari/Jacareí e Atibainha, que compõem o Sistema Cantareira. Mesmo assim, os reservatórios seguem em queda.
A companhia também já pediu mais 106 bilhões de litros de água, que serão usados “apenas se for necessário”, segundo nota. Os órgãos reguladores deram aval para a obra de implantação das bombas, mas a captação ainda não foi autorizada.
A Sabesp disse, em nota, que tem tomado medidas importantes para garantir o abastecimento na região metropolitana e aposta na retomada da chuva a partir de setembro. “Se tudo ocorrer dentro da normalidade, os níveis dos reservatórios deverão ser recompostos como ocorre anualmente durante esse período”, consta no comunicado.
Represa Jaguari-Jacareí, parte do Sistema Cantareira, na cidade de Vargem, no interior de São Paulo fotografada nesta terça (29) (Foto: Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo)Represa Jaguari-Jacareí, do Sistema Cantareira, em Vargem, em abril (Foto: Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo)Fonte: G1