terça-feira, 30 de agosto de 2011

MEIO AMBIENTE - Há muito o que proteger durante avanço das máquinas em Belo Monte

 Bichos que vivem na região têm que ser preservados, uma das exigências do Ibama para reduzir os danos. E arqueólogos procuram vestígios das populações indígenas que viveram há mais de mil anos na região.



O Jornal Nacional está apresentando uma série especial de reportagens sobre a usina de Belo Monte. Na primeira, exibida na terça-feira (23), a repórter Cristina Serra mostrou que a maior obra em andamento no Brasil é também a mais polêmica, porque envolve discussões com ambientalistas, com produtores rurais e com moradores das áreas que serão afetadas pelas barragens.
Nesta quinta (25), mostramos como é complexa uma construção desse tamanho. E tudo que precisa ser protegido, no avanço das máquinas.
No imenso canteiro de obras de Belo Monte, duas castanheiras ainda resistem de pé. No contraste da paisagem, o dilema entre o que deve ser preservado e a construção da usina, preocupação até do encarregado da obra.
“De primeiro, eu achava até bonito derrubar uma árvore. Hoje, não. Hoje, para derrubar, eu tenho que pensar duas vezes”, conta Cícero.
No comando dos operários, Seu Cícero se sente em casa. Chegou do Ceará há 40 anos para abrir a Transamazônica. "Como não tenho medo de nada, eu vim", ele diz.
A maior obra em andamento no Brasil atrai trabalhadores de várias regiões. São os barrageiros, como o Seu Francisco, que veio de Minas com a família. Um dos filhos trabalha sob o comando dele.
A empresa Norte Energia, que constrói Belo Monte, quer dar prioridade à mão de obra da região e, assim, evitar uma migração em massa. “Estamos qualificando carpinteiros, pedreiros, armadores, operadores de máquinas”, explica o diretor de construção Marco Túlio Pinto.
José aprende a operar uma escavadeira usando um simulador. Aos 42 anos, vai ter a carteira assinada pela primeira vez.

A hidrelétrica está sendo construída entre os municípios de Altamira e Vitória do Xingu. Só deve operar a plena carga em 2019. Até lá: “É uma operação de guerra”, define um dos trabalhadores.
Os desafios são enormes. Antes da usina, é preciso construir três alojamentos, onde, nos próximos anos, vão morar 20 mil trabalhadores, e conseguir transportar equipamentos e máquinas pesadas pela Transamazônica. O principal acesso à região mais parece uma pista de rali.
“Boa parte da Transamazônica não tem asfalto e, no verão, as nuvens de poeira se formam a todo momento. É tanta poeira que mal se consegue ver um palmo adiante.
“Se você não tiver essa estrada pronta no período da seca, você não consegue trafegar nela na chuva. Você, então, não tendo acesso ao sítio, tem problema de abastecimento de combustível, comida, máquina chegando lá”, alerta o diretor da Norte Energia Luís Fernando Rufato.
Com o asfalto chegando, a obra ganha ritmo. São várias frentes de trabalho. E assim nasce uma estrada no meio da floresta. A primeira parte do trabalho é desmatar com foices e facões para, depois, entrarem as máquinas. Uma das estradas que estão sendo abertas vai permitir a passagem de caminhões e equipamentos para os canteiros da obra. Ao todo, para erguer Belo Monte, serão construídos 260 quilômetros de estradas.
Biólogos acompanham tudo. Os bichos que vivem na região têm que ser preservados. É uma das exigências do Ibama para reduzir os danos ao meio ambiente.
“O bicho tem o instinto de sobrevivência. Com o menor barulho, ele já está procurando fugir”, explica o biólogo Flávio Poli.
Os que não conseguem fugir são resgatados e soltos em lugar seguro. Em dois meses e meio já foram salvos 1,2 mil animais.
Na hora de desmatar, de olho no futuro, é preciso lembrar que a Amazônia tem um passado. Arqueólogos procuram vestígios das populações indígenas que viveram há mais de mil anos na região. De caco em caco, vão montando o quebra-cabeça e descobrindo quem eram esses índios, como vivam. Mais uma exigência para a construção da usina, desta vez do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“Sempre viveu muita gente aqui na Amazônia e de maneira, inclusive, sustentável. Alguma lição ela deve ter para nos ensinar”, destaca um arqueólogo.

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Fonte: G1

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