terça-feira, 30 de agosto de 2011

MEIO AMBIENTE - Construção de Belo Monte promove transformações no coração do Pará

 A empresa responsável pela usina terá que adotar medidas para compensar o impacto da migração na região. Estimativas variam de 50 mil a 100 mil pessoas a mais, que vão precisar de escolas, saúde e saneamento básico.



O Jornal Nacional está apresentando esta semana uma série especial de reportagens sobre a usina de Belo Monte. Na primeira, a repórter Cristina Serra mostrou as polêmicas envolvendo a maior obra em andamento no Brasil: as queixas de índios, de produtores rurais, de ambientalistas e de moradores de áreas que serão atingidas pelas barragens.
Na última quinta-feira (25), na segunda reportagem, o trabalho de remoção de animais e de proteção de sítios arqueológicos antes do avanço das máquinas.
Nesta sexta-feira (26), você vê as transformações que a construção da usina está promovendo no coração do Pará.
“Belo Monte está chegando. Cidadão altamirense, você é contra ou a favor?", questiona um morador.
A cidade de Altamira, às margens do Xingu, virou uma espécie de capital de Belo Monte. E já sente a grande mudança.
“Esse ano, mais de 400 empresas já chegaram aqui e, com essa demanda, é automático que os preços aumentem”, diz o empresário Vilmar Soares.
É só dar um pulo na feira. “A carne, o peixe, o frango, a nossa alimentação subiu demais”, conta uma senhora.
O preço do tomate: “Era R$ 2, passou pra R$ 2,50 e agora passou pra R$ 3”, diz uma moradora.
Se a chegada de novos moradores provoca aumento nos preços, também acelera o crescimento da cidade. Um empresário mostra o terreno onde vai construir um hotel com 120 apartamentos. "É só um empurrãozinho que faltava para essa locomotiva decolar", conta.
E não é só ele, para onde quer que se olhe tem construção nova. “Acabando esse prédio já vou começar outro”, diz um senhor.
Além de Altamira, outras quatro cidades serão diretamente atingidas pela construção de Belo Monte: Vitória do Xingu, Brasil Novo, Senador José Porfírio e Anapu. Altamira é a maior: com 100 mil habitantes e 160 mil quilômetros quadrados. É maior que Portugal. E tem problemas antigos, que precisam de solução.
A equipe de reportagem visita Brasília. Não, não é a capital do poder. Brasília é o nome da região de palafitas em Altamira, uma área de risco, onde as pessoas vivem em situação extremamente precária.
São 6 mil famílias. Agora que recebeu a licença de instalação, a Norte Energia, a empresa responsável por Belo Monte, vai ter que dar novas habitações para os moradores.
“Seria bom para a gente porque aqui é uma ponte muito perigosa, está tudo quebrado”, diz uma moradora. Ninguém sabe ao certo para onde vai. Dona Dejanira tem medo do futuro: “Eu já gosto daqui demais, sou acostumada aqui”, conta.
A empresa também terá que adotar medidas para compensar o impacto da migração na região. As estimativas variam de 50 mil a 100 mil pessoas a mais, que vão precisar de escolas, postos de saúde, saneamento básico. Imagine as mudanças no trânsito da cidade. Sem falar na preocupação com a segurança.
“A bandidagem vai vir junto com a barragem”, afirma uma moradora. A polícia confirma: a criminalidade aumentou 28% em 2011, em relação a 2010.
Por contrato, a Secretaria de Segurança do Pará vai receber R$ 172 milhões da empresa responsável por Belo monte.
"Todo empreendimento traz essa questão de novas oportunidades e a criminalidade também vem atrás disso", diz o delegado Cristiano Marcelo.
Belo Monte está sendo erguida com o objetivo de aumentar o potencial de energia elétrica do Brasil.
“Esse custo ambiental, eu diria que é perfeitamente compatível e inferior aos benefícios que esse empreendimento traz para a sociedade brasileira como um todo, pela energia elétrica que entrará no sistema interligado, como para os benefícios da comunidade que vive nas proximidades da usina”, diz o diretor de planejamento de Minas e Energia, Altino Ventura.
Belo Monte só perde para três gargantas: na China e Itaipu, no Paraná. E custará, ao todo, R$ 26 bilhões.
Cerca R$ 3,7 bilhões serão gastos com as compensações dos impactos sociais e ambientais. E essas compensações têm que ser acompanhadas com rigor, afirmam cientistas e Organizações da Sociedade Civil.
“O Brasil precisa instalar um projeto que não seja de muito dinheiro durante seis anos e depois nada”, diz Hermes Fonseca.
No ano em que Altamira comemora o centenário de fundação, Belo Monte é um presente carregado de polêmicas. Um passo ainda incerto rumo ao futuro.

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