segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Polícia confirma 11 PMs presos em operação contra corrupção no RJ

19/12/2011 22h45

Polícia confirma 11 PMs presos em operação contra corrupção no RJ

Outros dois PMs ainda são procurados pela Polícia Civil.
Entre os presos está o comandante do 7º BPM (São Gonçalo).

Tássia ThumDo G1 RJ
 
 
Já chega a onze o número de policiais militares presos nesta segunda-feira (19), durante a operação "Dezembro Negro", comandanda pela Divisão de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG), na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
De acordo com o delegado Alan Luxardo, da DH, os PMs são acusados de corrupção e associação para o tráfico de drogas. Entre os presos está o comandante do 7º BPM (São Gonçalo), coronel Djalma Beltrami. Outros dois PMs ainda são procurados pela polícia.
A defesa do comandante informou na tarde desta segunda-feira que vai entrar com um pedido de revogação da prisão de Beltrami. O advogado dele, Marcos Espíndola, considera que não há indícios do envolvimento de seu cliente com o esquema de corrupção e tráfico de drogas. Beltrami estava no comando do 7º BPM (São Gonçalo) há três meses.
A operação contou com apoio da Corregedoria Geral Unificada (CGU) e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). Cerca de 100 agentes da Polícia Civil, um helicóptero blindado e dois promotores do GAECO participaram da ação, que terminou por volta das 17h desta segunda-feira.
Em nota oficial, a Polícia Militar informou que só vai se posicionar sobre a prisão do coronel
Djalma Beltrami Teixeira após o esclarecimento das circunstâncias e a motivação
da prisão temporária. Ainda de acordo com a PM, "a Corregedoria Interna da Corporação vai solicitar formalmente cópia da documentação e das gravações com as interceptações telefônicas veiculadas na mídia".

Presos por suspeita de tráfico

De acordo com a polícia, outras sete pessoas foram presas suspeitas de participarem do tráfico de drogas do Morro da Coruja, em São Gonçalo. Neste grupo, segundo o delegado Alan Luxardo, há três menores. O delegado afirmou, ainda, que alguns traficantes que atuam na comunidade fugiram do Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio, após ocupação em 2010.
Na operação também foram apreendidos cinco quilos de maconha, sacolés de cocaína, um radiotransmissor e um revóler calibre 38.
A operação "Dezembro Negro" visava cumprir 13 mandados de prisão, todos contra PMs. Escutas telefônicas gravadas com autorização da Justiça registraram conversas entre suspeitos e policiais militares cobrando propina.

Beltrami foi levado para a Divisão de Homicídios em Niterói, para prestar depoimento. O delegado revelou que o comandante, ao ser preso, negou as acusações. No entanto, Luxardo afirma que existem imagens e provas testemunhais que ainda estão sendo analisadas. O comandante prestou depoimento e será levado para o Batalhão de Choque, no Centro do Rio.

Escuta
Os dois interlocutores da escuta telefônica fazem referência a uma pessoa conhecida como "zero um" que, segundo a investigação, seria o comandante Djalma Beltrami. As patrulhas da PM são tratadas de "gêmeas”. Mas o comandante Beltrami não aparece em nenhuma conversa gravada pela polícia. Veja o diálogo:
Policial: “Só que também vai ter que levantar, aumentar aquele negócio, porque tem gente, rapaziada mais alta chegando, vai ser tudo, tudo com a gente, entendeu? Vai ser tudo com este telefone que você tá falando aí, tudo com o 'zero um', entendeu?”
Traficante: “Olha só, eu quero perder pra vocês, entendeu. E perder pro cara que assumiu agora, eu tenho condições de dar 10 pra ele por semana, entendeu?”
Policial: “10 pra, pra... Tem que ser pra cada "gêmea", por final de semana”
Traficante: “Como é que vou dar 10 pra 'tú'? E depois tem que dar tanto pras outras "gêmeas"?
Tá louco, aí eu morro, fico na 'bola', a boca não é minha, não, cara”.
Além das escutas, a investigação também teve por base imagens de circuito interno de um posto de gasolina, e do GPS de duas viaturas do GAT. “Cruzando-se a informação dos investigadores, que deslocados visualizaram a negociação, com as imagens do posto de gasolina e com os dados dos GPS, chegou-se à conclusão de que os militares que integravam aquelas guarnições negociaram e receberam o dinheiro sujo”, disse o promotor Tulio Caiban.
Comandante é ex-juiz de futebol
Beltrami comandou equipes em momentos de grande repercussão, como o massacre da escola de Realengo, na Zona Oeste, em abril, quando 12 crianças foram mortas. Mas o comandante ganhou fama numa carreira paralela a de policial, nos gramados: durante 22 anos ele foi juiz de futebol.
De acordo com o Globoesporte.com, Beltrami, paulista de 45 anos, fez parte do quadro de árbitros da Ferj de 1989 a 2011, quando se aposentou por idade em maio. Também era dos quadros da CBF (1995 a 2010) e da Fifa (2006 a 2008).
Durante investigações de assassinatos relacionados ao tráfico de drogas, agentes descobriram a corrupção policial. Os PMs receberiam propina de R$ 160 mil por mês.
Investigações começaram há 7 meses
As investigações, que começaram há sete meses, apuravam o tráfico de drogas na Região dos Lagos. Segundo a Polícia Civil, as drogas saíam de favelas como Parque União, Manguinhos e Nova Holanda, no subúrbio, e seguiam para o Morro da Coruja, em São Gonçalo. PMs recebiam propina para não reprimir a chegada dos entorpecentes à comunidade. De lá, as drogas eram levadas para São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos.
De acordo com a Polícia Civil, agentes visavam cumprir também 11 mandados de prisão contra suspeitos de tráfico no Morro da Coruja, em Neves, além de outros nove de busca e apreensão, expedidos pela Justiça. Na chegada à comunidade, houve troca de tiros e um suspeito morreu.
Djalma Beltrami assumiu o 7º BPM após a prisão do tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira, acusado de envolvimento na morte da juíza Patrícia Acioli. Patrícia foi executada com 21 tiros ao chegar em casa, em Piratininga, na Região Oceânica de Niterói, em agosto. Ao todo, 11 PMs foram denunciados pelo Ministério Público como participantes da morte da magistrada. O tenente-coronel e um tenente foram transferidos na semana passada para a Penitenciária Federal de Campo Grande (MS).

Fonte: G1

Nenhum comentário:

Postar um comentário