sábado, 8 de fevereiro de 2014

Delegado diz que versão de black bloc é fantasiosa

08/02/2014 12h58 - Atualizado em 08/02/2014 13h32

Manifestante Fábio Raposo se apresentou à polícia neste sábado (8). 

Delegado afirmou ainda que Fábio tem histórico de violência em protestos.

Do G1 Rio
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O delegado Fábio Pacífico disse, em entrevista ao RJTV neste sábado (8), que é fantasiosa a versão contada à polícia peloblack bloc Fábio Raposo, suspeito de entregar ao um outro manifestante o artefato que atingiu o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade, durante um protesto contra o aumento da passagem de ônibus, no Centro do Rio.
O tatuador disse que passou para outro manifestante o artefato que atingiu Santiago e que não o conhecia. “Os técnicos foram precisos na dinâmica da detonação. Eu acho que o vínculo associativo dos dois para a deflagração do artefato, do explosivo acho que está evidente. A versão do senhor Fábio ela é no mínimo fantasiosa. Agora ele está tentando justificar o injustificável", disse o delegado da 17ª DP (São Cristóvão).
O delegado acrescentou também que Fábio Raposo tem histórico de violência durante outras manifestações e que o registro de envolvimento em agressões está na 5º DP (Mém de Sá). "O senhor Fábio já tem um histórico de violência envolvido em manifestações no ano passado. Então esta versão é totalmente fantasiosa e nós estamos justamente apurando aqueles que já se associavam a ele anteriormente. Há um inquérito instaurado lá [delegacia] onde ele é um dos participantes de dano ao patrimônio, destruição de bens particulares, agressões e formação de quadrilha”, ressaltou.
De acordo com Pacífico, as imagens serão decisivas para as investigações. “Nós já tínhamos tido acesso a isso e estamos trabalhando justamente em cima destas imagens que foram conseguidas com a TV Brasil", completou.
O delegado explicou também que o manifestante Fábio Raposo não foi preso no momento em que se apresentou à polícia porque não havia nenhuma ordem de prisão contra ele. Pacífico ressaltou ainda que o tatuador pode ser chamado para prestar novos esclarecimentos e que tem certeza que a polícia vai chegar no segundo suspeito.
Entrevista exclusiva
Os repórteres Luana Alves e Carlos Alberto Silva, da editoria de jornalismo local da TV Globo no Rio de Janeiro, registraram com exclusividade o depoimento do rapaz que se apresentou na 17ª Delegacia de Polícia (São Cristóvão) na madrugada deste sábado (8).
"Meu nome é Fábio. Eu estava ontem [quinta-feira] na manifestação contra o aumento das passagens. Sim, era eu. As fotos que foram apresentadas nas mídias era eu, sim. Eu era o [homem] de camisa, bermuda e tênis, com as tatuagens, era eu, sim. Era eu passando o artefato para o outro indivíduo, mas o artefato não era meu, eu quero deixar isso bem claro. O artefato não era meu", afirmou o black bloc, que tem a panturrilha tatuada.
"Logo que eu cheguei, houve um corre-corre. Fui até lá para ver o que tinha acontecido. Estava tendo um confronto entre manifestantes e alguns policiais militares. Daí, jogaram uma bomba de gás lacrimogêneo próximo a mim. Eu coloquei a minha máscara de gás, que é mais para minha proteção mesmo, porque machuca o peito e arde o rosto, e foi isso. Eu cheguei, fui até lá, vi que estava tendo um confronto entre a polícia e os manifestantes. Nesse corre-corre, vi que um rapaz correndo deixou uma bomba cair. Uma bomba, não sei o que é, um negócio preto assim. Daí, eu peguei e fiquei com ela na mão. Esse outro cara veio e falou para mim: 'Passa aí para mim, que eu vou e jogo. Eu vou e jogo'. Eu peguei e passei para ele. Foi só isso mesmo", disse Raposo.
Ele ressalta que participa de manifestações forma pacífica. "Eu em momento algum vou para as manifestações para quebrar as coisas e bater em policial, jogar pedra, não sei. É isso. Não fui eu, eu não tive a intenção de machucar nenhum repórter", afirmou.
Vídeo mostra suspeitos de jogar artefato que atingiu cinegrafista (Foto: Reprodução/Tv Brasil/Jornal da Globo)Vídeo mostra suspeitos de jogar artefato que
atingiu cinegrafista
(Foto: Reprodução/Tv Brasil/Jornal da Globo)
O manifestante afirmou ter ficado assustado com a repercussão do caso e disse que foi pressionado a admitir a participação. "Só estou vindo aqui mesmo porque estou assustado demais. A minha foto foi divulgada até em mídias internacionais. Já recebi ligações de pessoas desconhecidas, não sei se são grupos ou o que são, pedindo para eu assumir o caso e falar que fui eu, tentando me obrigar. É isso. Não fui eu mesmo. Eu quero o bem do repórter que está em coma, a família dele, tudo. Não sei o que falar, mas é isso. Melhoras, cara", disse o tatuador.
Raposo garantiu que não conhece o jovem que pegou o artefato e o viu somente na manifestação. "Ele era um cara alto, chamava bastante atenção. Ele estava com uma camisa na cara, preta. Ele chamava bastante atenção, mas não tenho ideia de quem seja. Eu fui sozinho na manifestação", revelou.
"Foi um acaso mesmo, de ver o negócio no chão, pegar para tentar devolver, achando que era algum pertence de alguém, mas infelizmente era uma bomba e ele acendeu de uma forma que foi em cima do repórter", contou o rapaz, dizendo acreditar que o manifestante que acendeu o rojão não teve intenção de ferir o cinegrafista. "Acredito que ele não tenha feito por mal. Acredito que foi um acaso de ele estar filmando, os cinegrafistas ficam no meio do fogo cruzado."
O black bloc afirmou que sabe que o estado do cinegrafista é grave. "Eu estou torcendo para ele sair dessa, foi algo surreal, que não deve acontecer nunca, não pode acontecer mais. Os repórteres devem se respeitados. Eles têm o direito de estar ali, como os manifestantes também têm. Acho que ele vai sair dessa, torço para ele sair dessa", destacou.
Sobre o manifestante que acendeu o rojão, Raposo disse achar que ele vai arcar com as consequências "de ter ido lá, de ter acendido e ter pego em um repórter inocente que não tem nada a ver com esse clima, com essa tensão, entre polícia e manifestante".
Imagens gravadas 
Imagens feitas pela TV Brasil  mostram, à direita do vídeo, a dupla de manifestantes caminhando. Os dois têm um pano amarrado no rosto. O rapaz da direita veste calça jeans e uma camisa cinza bastante suada. À esquerda dele, está um jovem mais baixo, também com camiseta cinza, mas de bermuda preta. Ele tem uma tatuagem grande na panturrilha esquerda. Na sequência do vídeo, o rapaz de bermuda parece passar algo para o outro, mas não é possível identificar o quê. Os dois então se misturam a um grupo maior.
Ao fundo da imagem, aparece o cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes, vestindo uma camiseta vermelha e com a câmera no ombro. Enquanto isso, no canto direito, está o jovem de camiseta cinza suada e calça jeans. A gravação termina logo depois, no momento em que o rapaz parece se abaixar.
Estado de sáude 
O cinegrafista Santiago Andrade foi atingido na cabeça e continua internado em coma no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Municipal Souza Aguair, no Centro. O estado de saúde da vítima é grave.
O paciente está sedado e respira por aparelhos. Segundo o hospital, ele teve um afundamento craniano e passou por uma cirurgia na cabeça, que durou 4 horas e foi considerada "bem-sucedida" pelos médicos. Segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), com a operação foi possível conter a hemorragia na cabeça do cinegrafista e controlar a pressão no crânio.

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