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LAMENTOS DE UMA BALSA -Tony Prates.

 

Há muito tempo nasci em uma Floresta aqui no Município de Jequitinhonha que hoje é denominada de Floresta Biológica da Mata Escura. Eu que fui um dos mais resistentes Ipês, me transformei em um trasporte aquático que viria atravessar milhares e milhares de pessoas, veículos diversos, animais e seria testemunha de muitas coisas que faria parte de minha e da história Jequitinhonhense, vi ali quietinha, sigilosa, compreensiva  prestativa, cúmplice das mais adversas peripécias que se possa imaginar. Na calada da noite, travessei inúmeros caminhões pesados de madeira de lei com até três metros cúbicos de espécies e essências diversificadas, fui cúmplice dos casais que namoravam enquanto faziam a travessia ao outro lado da via aquática, muitos que hoje, são pais, filhos, netos e bisnetos; atravessei autoridades diversas; fiz parte do progresso de Jequitinhonha, pois, era o elo de ligação de Jequitinhonha aos Distritos e povoados do Caju  Estiva, Mumbuca, Projetos Craúno, Para Terra, Cidades de Pedra Azul, Salinas, Montes Claros, Sul da Bahia e Salvador. Nem me perguntaram, mas, fui trocada de madeira de lei, por Aço, Ferro, acrescentaram motor  pilotos, até boias de salvamento, tinha. Ganhei velocidade, contudo, sofri com os esbarrões nas pedras submersas do nosso Já Minguado Rio Jequitinhonha, com o casco furado quase morro afogada (naufrago), havendo necessidade de usarem em mim dois motores, o de força e outro pra fazer a sucção da água que se armazenava em minha barriga que me inundava sempre e rapidamente. Fui palco de muitas alegrias, tristezas, brigas, comemorações, festas e participado da rivalidade dos cruzeirenses e atleticanos que me conduziam, e, eu que nem sabia torce e nem tinha um time, sempre fui guardadora de segredos transportando, atravessando caladinha tudo e todos sempre sofrendo, mas, sem nunca reclamar. Acompanhei de perto os projetos que viria construir a minha maior rival que seria a ponte. Mesmo assim, sem dizer nada atravessei de um lado para outro, arquitetos, engenheiros, mestres de obras piões e até autoridades que queriam se projetar através da construção da ponte e que se esqueceriam de mim que trabalhei e acompanhei os primeiros passos e desenvolvimentos da cidade de Jequitinhonha.

Hoje, aqui abandonada à margem do Rio Jequitinhonha, estou testemunhando de que o progresso está chegando, a ponte está feita, atravessando com maior rapidez e comodidade veículos e pessoas de todos os lugares, enfim de todo Brasil. Agora eu pergunto aos senhores doutores e doutoras, será que não mereceria um pedestal às margens de onde nasci e prestei serviços por toda minha existência? Gostaria de ficar ao lado daquele que juntos passamos dias bons, dias ruins, enfrentando enchentes e secas, vendo todos os dias o nascer e o pôr do sol. Não me abandonem, já fui muito útil a todos vocês. Só queria passar o restinho dos meus dias como uma atração para que os filhos, netos e bisnetos de Jequitinhonha, soubessem que aqui um dia existiu uma Balsa, que mesmo com tantos sofrimentos, conseguiu sobreviver as intempéries do tempo, a tudo e a todos e que só quer o direito de terminar os seus dias no local em que nasceu ""MARGEM DO RIO JEQUITINHONHA"". E ainda continuaria a prestar os meus serviços como atração turística.

Grata:

A Balsa.

Tony Prates.Ver mais